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Que venha a iluminação política!

Causa estupor a notícia do desejo da prefeitura de Foz do Iguaçu de transformar o belíssimo espetáculo natural das cataratas numa Disney tupiniquim. Se não passasse de desejo, passaria por invencionice travessa e risível. Preocupa, e mais, apavora, quando se percebe que o que poderia não passar de fanfarronice surge como ameaça real através de um plano para iluminar as cachoeiras, criando jogos de luzes e cores, numa versão hollywoodiana high-tech.
 
Preocupa mais ainda quando a administração de parques da Argentina é obrigada a intervir, por receio de que o seu quarto mais importante destino turístico possa perder o status de Patrimônio Mundial da Humanidade, da Unesco. E ainda, possivelmente, possa perder seu papel de monumento da natureza por aparentar-se comO um parque de diversões, um Playcenter da Mata Atlântica. 

Urge a manifestação da sociedade civil e das organizações e órgãos não-governamentais contra essa barbárie ambiental, que mostra, mais uma vez, o quanto nosso sistema de gestão de parques e áreas protegidas é ultrapassado e não atende à dinâmica e necessidades da sociedade.
 
Na Argentina o sistema de parques é gerenciado por uma agência que tem só isto como missão, ao passo que o Brasil, muito maior em extensão, tem, para tudo que é relacionado ao meio ambiente no plano federal, uma entidade única, o Ibama. O órgão tem que cuidar de madeireiros, licenças ambientais, invasões, conservação, além de, é claro, de parques nacionais e planos de manejo (sob velocidade paquidérmica), concessões e muito mais. Inviável. Não bastasse nossa defasagem monumental na gestão das atividades de ecoturismo e educação ambiental nos parques, que atrasam nosso posicionamento mundial com a oferta de bons e bem acabados produtos de ecoturismo, ainda nos vemos agora diante destas ameaças.
 
Cabe a nós inspirarmos-nos nas melhores experiências internacionais de gestão de parques e unidades de conservação. A título de curiosidade, a Argentina implementa, desde 2005, uma administração compartilhada (governo e iniciativa privada) na Península Valdez, um dos ícones do ecoturismo vizinho. A propósito, seu executivo chefe é especialista em gestão, com experiência em conflitos de interesse que, diga-se de passagem, fazem parte da vida humana. A diferença, em relação a nós, é que eles os resolvem, em ritmo de empresa privada. E é com políticas e ações como essa que a Argentina viu crescer com um sorriso nos lábios seu turismo interno.
 
Administração compartilhada, co-gestão, são palavras que a partir de agora têm que permear o dicionário dos estrategistas federais do turismo e do meio ambiente. Afinal, se não tivéssemos feito a lição de casa nas telecomunicações e na informática, estaríamos ainda hoje como há dez anos, quando obter um telefone significava anos de fila e quando computadores só podiam ser modelitos bem brasileiros, muito distantes dos padrões mundiais. Querem voltar atrás?
 
* Edgar Werblowsky é presidente de diretor de Ações Socioambientais da FreeWay Adventures e diretor do Toi – Tour Operators Initiative for Sustainable Tourism Development – Unep – Unesco – UNWTO