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Cara Ministra Marina Silva

Publicado no Site Família Aventura em Julho/2003 

Há poucas semanas assistimos a um momento ímpar na história de nosso país. O presidente Lula, 15 governadores, 8 ministros, parlamentares, um sem número de empresários, reunidos para tratar em primeira grandeza de um tema historicamente relegado no Brasil: o turismo. As palavras do presidente tocaram, pela precisão, pelo foco. Nunca antes um fato assim ocorria. O discurso do ministro do turismo e, depois, no hotel Blue Tree, dos seus assessores, mostrou uma coisa: a equipe toda está uníssona. Amalgamada. O que já é muito. A vontade política de fazer as coisas acontecerem, de derrubar as barreiras burocráticas, como repetiu algumas vezes o ministro Mares Guias "consegui o apoio de todos a quem procurei, a disposição pessoal de colaborar...e pelo telefone! " , reforçam o otimismo. Mares Guias é empresário bem sucedido, homem acostumado a resultados.

Eduardo Sanovicz, presidente da Embratur, é homem de resultados. Como sua trajetória demonstra. A equipe é profissional, eclética. Unida. Acertaram em cheio quando deixaram à Embratur o papel exclusivo de promover o Brasil no exterior. Sem distrações de qualquer espécie. Capacitação, certificação, políticas, fica tudo para o ministério do turismo. Para Sanovicz, o desafio claro, objetivo: atrair 9 milhões de turistas estrangeiros por ano, em 1997. Grandiosa a meta? Sem dúvida. Exeqüível?

Nisso tudo ministra Marina , faltou alguém. Faltou a senhora. Compromissos em Washington, ou junto aos seringueiros, com certeza a retiveram.
Mas por que eu, a senhora me diria? A área é do Mares Guia. Certo, eu retrucaria.

ITB, FITUR, Zurique, WTM, são feiras internacionais onde se travam batalhas por turistas. Lá estava eu sentindo na pele e no gogó as demandas dos agentes de viagem do primeiro mundo. Que podem nos ajudar a transformar as promessas de campanha e agora as metas do Plano Nacional de Turismo em semi-realidade.

O que estes senhores apressados querem, quando sentam na minha mesa de campanha diária, lá na minha mesa no stand do Brasil?

Eles querem coisas diferentes, viagens diferentes. Descobrir o que é que o Brasil, esse gigante desconhecido, tem. Reclamam que têm sempre as mesmas coisas e que precisam apresentar coisas novas a seus clientes. Competem entre si por diferenciação. Querem cultura, exotismo, praias limpas, acolhimento, qualidade, serviço, confiabilidade. E ecologia, beleza, ecoturismo.

Mas tudo bem, continuaria a senhora, o Mares Guia recebeu a delegação do presidente para cuidar de tudo isso. Meu negócio é cuidar dos povos das florestas, dos parques...No que eu posso ajudar?

Ministra, o Brasil é um dos paraísos da biodiversidade do planeta. A OMT vê no ecoturismo, no turismo de aventura, no turismo a lugares insólitos, aos pontos mais remotos da Terra, no turismo temático e no turismo embarcado, os maiores crescimentos nestas duas décadas. O ecoturismo tem tido grandes avanços e crescimento em nosso país, a despeito, e repito, a despeito de termos preparado o cenário. Por enquanto só contamos mesmo é com o cenário que Deus nos deu. E um pouquinho mais.

A senhora vai poder ajudar o ministro Mares Guias e muito. O Brasil conta com mais de 60 parques nacionais. Deles, só um desponta em termos da preparação do cenário: Iguaçu. Vá para lá e confira, minha cara ministra. Observe que proteção ambiental e usufruto responsável das riquezas convivem bem, gerando renda para muitos. Contemple a beleza e funcionalidade do centro de visitantes, os veículos que não poluem, os restaurantes cênicos. Saia de lá com uma camiseta estampada de preservação. É o que eu e todos os meus ecoturistas almejamos. Vendendo preservação no peito, é isso aí.

Ministra, quero convidá-la a caminhar comigo pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Modelo de parque. Carros não ultrapassam sua portaria. Os guias são conscientes. Formados através de cursos e mais cursos. Muitos são antigos garimpeiros. Pergunte por lá se madeiras são extraídas ilegalmente do parque. Será?

Por que falo tudo isto? Sou um conservacionista. E desenvolvimentista também. Iniciei passeatas para fazer da Juréia um reduto intocável, batalhei pela não construção da Hidrovia Paraguai - Paraná. E vejo nos Parques Nacionais a maior oportunidade para se praticar um ecoturismo sério, responsável (e sou obrigado a adjetivar o ecoturismo, já que o termo está ganhando ares de mercado de peixe). Para isso prezada ministra Marina, urge criar os planos de manejo dos parques, para definir as áreas de ocupação e partir para celebrar contratos de concessão nestes parques. Como o presidente Lula muito bem afirmou "não esperem o Estado fazer tudo. O governo precisa das parcerias", a presença da iniciativa privada na exploração dos serviços nos parques é essencial. Iguaçu mostra o acerto da política. E tem mais. O ecoturismo responsável promove, quando em áreas de grande extensão, a proteção ambiental. Na medida em que inibe a destruição da floresta pelos agentes ilegais, na medida em que o potencial destruidor da floresta fica mais exposto a denúncias dos ecoturistas. Na medida em que o parque nacional nestas regiões, se não aberto ao ecoturista, vai ficar devendo a sua integridade a um número ínfimo de guardas do Ibama.

Prezada Ministra, o governo Lula poderá vir a ser tornar um marco glorioso na história deste país. Vamos fazer também da gestão responsável de nosso patrimônio natural, com a integração planejada ecoturista - natureza, a pedra de toque da sua gestão à frente deste ministério. Conte conosco.

Foto: Divulgação