O espírito Ulyssiano de aventura parece ter se apoderado dos turistas atuais, que buscam experiências cinematográficas e sonham com destinos longínquos, quase inalcançáveis e nas áreas mais remotas do planeta. Ou mesmo além dele. Não é mais uma miragem viajar às estrelas, dormir sob um glacial, ou caminhar no espaço. Dennis Tito, um americano, foi o primeiro turista pagante a viajar a bordo de uma cápsula Soyuz e visitar a Estação Orbital Espacial em abril de 2001. Uma outra experiência que atrai os espíritos ousados é o Undersea Lodge, ou Pousada no Fundo do Mar, que fica no fundo da Lagoa Esmeralda, na Flórida. Ali os turistas precisam mergulhar para chegar a seu apartamento subaquático.
É clara a tendência que aponta na direção das viagens experienciais, onde há ação, aventura, fantasia, nostalgia e o exótico. Estudos têm demonstrado que o turista ativo, aquele que se preocupa com qualidade de vida, que valoriza o item saúde, não mais quer passar seu tempo à beira de uma piscina de um hotel 5 estrelas, mas está atrás de novas e inesquecíveis experiências que passarão a fazer parte intrínseca dele. Algo exótico e diferente o suficiente para ser compartilhado com os amigos, ao voltar para casa.
Tomou de assalto a mídia americana o recente anúncio de Richard Branson, quando ele surpreendeu a todos com o lançamento do Virgin Galactic. Mais de 6000 pessoas já se inscreveram para participar deste primeiro vôo suborbital comercial, enquanto outras empresas também já estão anunciando seus próprios planos de jornada nas estrelas.
Viagem de aventura, ecoturismo, treinamento experiencial ou vivencial? Quantos remédios - mas para quais moléstias? Para que e quem servem? Quando aplicar? Em que dose?
Os remédios se dividem em dois grandes grupos: o motivacional e o recompensatório. O primeiro se apropria dos conceitos da aventura para instigar, motivar, integrar, formar equipes, aumentar a confiança, afiar as ferramentas, individuais e em grupo, com o objetivo de buscar resultados, de atingir metas; de robustecer a equipe de funcionários da empresa; o segundo, se utiliza dos cenários paradisíacos, da produção cinematográfica, dos princípios do turismo ativo, do bem estar que o contato com a natureza propicia, para premiar, recompensar, celebrar, tanto funcionários, quanto clientes.
Se a lembrança de um prêmio-produto, tradicional, perdura cerca de 8 meses na mente do recompensado, a premiação com experiências, em que predominam a interação, a sensação e a emoção, permanecem por vários anos na sua memória.
A mais recente vertente para as viagens de incentivo nasceu da necessidade de uma visão mais holística para os futuros dirigentes empresariais, e da crescente importância do quesito responsabilidade social. O corolário propõe viagens onde o entendimento das culturas locais seja o ingrediente principal. A Novo Nordisk, empresa dinamarquesa líder mundial no tratamento de diabetes, trouxe a São Paulo, Rio e Foz do Iguaçu.31 de seus executivos, de todas as partes do mundo, para passar alguns dias visitando comunidades indígenas, hospitais e favelas.
A criatividade, atributo altamente valorizado no comportamento do executivo, é grandemente estimulada quando nos encontramos afastados de nosso habitat cotidiano. Induzir o executivo a esta prática é um dos subprodutos das viagens de incentivo que têm como cenário a natureza. Grandes escritores, sertanistas, filósofos e visionários produziram suas obras monumentais a partir de seu contato com a natureza. Walden, obra prima de Thoreau, foi escrita numa cabana, às margens do Lago Walden, na Nova Inglaterra. Gandhi liderou as massas do povo indiano a partir de uma caminhada que atravessou o país. Nosso grande Rondon resgatou o indígena em meio à sua heróica travessia pelo Brasil central, reescrevendo a história moderna.
Estudos da Organização Mundial do Turismo apontam que, entre os segmentos que mais crescerão nestas duas décadas estão o turismo para lugares insólitos, como as profundezas dos oceanos, o alto das montanhas ou o cosmos. Pois as pessoas estão em constante busca do diferente, do único, da conquista pessoal. Os inovadores, aquela primeira fileira dos consumidores, mais os pragmáticos, que representam o segundo escalão na ordem de aceitação das novidades, já representam, juntos, cerca de 40 % do mercado.
Se eles pensam assim, como poderão os executivos que planejam seus produtos, estar atrás?
Se alguma dúvida ainda fosse pairar na mente do executivo responsável pela definição da viagem sobre a qualidade do produto ecoturístico, é hora da desmistificação. O nível desses serviços cresceu tanto em nosso país nos últimos 20 anos, que hoje em dia até ecoresorts de grande sofisticação e charme se espalham com rapidez por seus quatro cantos. Consultores, operadoras e guias experimentados para criar a melhor viagem, atividade e aventura para o grupo já são encontrados sem muita dificuldade. Claro que o amadorismo ainda existe, e que referências, o tempo de experiência, e até a filosofia e missão do fornecedor devem ser levados em consideração na hora da contratação.
Os resultados pipocam por todos os setores.
A Pfizer Inc, convencida de que um grupo seu poderia voar bem mais alto, além dos desempenhos individuais dos vendedores, levou seus executivos de vendas para um treinamento experiencial na natureza. . Os resultados excederam as expectativas, e envolveram a partilha das melhores práticas, a cooperação, o cotejamento do planejamento com a realização, o saber ouvir e incorporar as melhores idéias dos outros, e a confiança.
O Credit-Suisse First Boston utilizou-se do treinamento experiencial em meio à natureza, envolvendo atividades de aventura, ao reunir os recém admitidos associados de todo o mundo, com o objetivo de facilitar o aprendizado, transcendendo as barreiras lingüísticas e culturais. Os resultados ajudaram a criar uma cultura de cooperação em indivíduos altamente competitivos. O grupo, multinacional, descobriu que o trabalho em equipes eficazes e a diversidade de visões propiciada pela multiculturalidade, ajudaram muito na criatividade e no pensamento estratégico.