Por Caio Lauer e Suzel Tunes
Do UOL, em São Paulo
Adora viajar, mas não tem companhia? Para um número cada vez maior de brasileiros, isso não é um problema. Em uma pesquisa do Ministério do Turismo divulgada em 2014, 17,8% dos brasileiros revelaram a intenção de viajar sem a companhia de um amigo ou familiar. Em janeiro do ano passado, eles representavam 12,6%.
Essa tendência é confirmada, e de forma ainda mais contundente, por uma empresa especializada em pesquisa online de passagens e hotéis, a Kayak. Segundo o levantamento da companhia, entre os meses de janeiro e julho de 2014, mais de 77% das buscas por viagens nacionais e internacionais foram feitas por pessoas que pretendiam viajar sozinhas.
"A facilidade de encontrar informação online e, principalmente, nas redes sociais, colabora para que as pessoas se sintam mais confiantes e optem por viajar sozinhas", afirma Maria José Giaretta, professora do curso de Turismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Para ela, as pessoas vivem uma vida muito agitada e estressante. Nessas condições, viajar sem companhia acaba sendo "uma forma de refletir e de experimentar a introspecção".
Mas o turista que viaja sozinho não fica, necessariamente, solitário. E a possibilidade de conhecer pessoas diferentes – que costuma ser mais limitada quando se viaja com um parceiro ou em grupo – tem sido um atrativo para muitos turistas.
No entanto, para que a viagem transcorra de maneira tranquila, sem sobressaltos, é preciso tomar alguns cuidados básicos de segurança, que incluem um planejamento prévio do transporte e hospedagem.
De acordo com Edmar Bull, vice-presidente da unidade de São Paulo da Associação Brasileira de Agências de Viagens, ao chegar no aeroporto ou na rodoviária, é importante, por exemplo, buscar táxis credenciados, para não ser vítima de assaltos ou abusos de preço. "Outro cuidado é fazer o seguro viagem, que cobre custos relacionados a possíveis doenças e acidentes", afirma.
Quem viaja sozinho precisa, sobretudo, estar atento aos próprios limites e a tudo o que acontece ao redor. E é justamente essa postura de atenção interna e externa que pode trazer os maiores benefícios da viagem.
Oportunidade de autoconhecimento
Foi a busca pelo autoconhecimento que motivou a profissional de Relações Públicas Ana Bortoletto, de 34 anos, a viajar sozinha para a mística Índia. Após frequentar um templo indiano em Campos do Jordão (SP), ela fez as malas e partiu para uma viagem que mudou sua relação com as pessoas e até a forma de ver a vida.
"Quis fazer uma viagem sem legendas, sem ninguém ao meu lado que influenciasse o que eu estava vendo e absorvendo do local. Fiz uma imersão em um templo sagrado na cidade de Nabadwip, fui ver com meus próprios olhos a cidade que diziam ser rica de espiritualidade", conta Ana.
Ela conta que viajou disposta a conhecer e experimentar, sem preconceitos ou restrições, uma cultura que sabia ser bem distinta da sua. Valeu a pena. De volta ao Brasil, trouxe na bagagem importantes aprendizados adquiridos do guru que conheceu na Índia. "Os ensinamentos que eu recebi lá, agora eu levo para todos os lugares aonde vou".
Amigos em todo lugar
Com a mesma abertura ao diferente, o representante de vendas Rafael Manzano, de 32 anos, decidiu fazer um "mochilão" pela Europa, passando pelas cidades de Londres, Liverpool, Amsterdã, Paris, Barcelona e Madri. Procurou conversar com o máximo de pessoas possível e fez diversos amigos no caminho.
"O idioma não foi uma barreira. Percebi que, quanto mais educado e gentil você é, melhor o tratamento recebido das pessoas", explica Rafael.
Em dezembro, Manzano viajará sozinho novamente. E, dessa vez, o encontro com o outro será solidário. Ele ficará 21 dias na África do Sul fazendo trabalho voluntário em uma tribo, representando uma organização não-governamental. "A ideia é retribuir tudo o que recebi nas minhas viagens pelo mundo", diz.
Privacidade e autoconfiança
Viajar sem a presença dos amigos ou familiares, mas com muita gente ao redor, também foi a opção da bancária Rosa Tieppo, de 49 anos. Ela fez uma excursão em grupo para o sul do Brasil e diz que é possível fazer novas amizades, porém, preservando a privacidade.
"Eu tinha companhia para fazer os passeios, mas também tinha meu espaço e tempo reservados quando queria ler ou descansar". Para a bancária, outra vantagem de participar de uma excursão é contar com toda a infraestrutura e segurança que a agência oferece, mesmo estando sozinho.
A questão da segurança costuma ser um obstáculo principalmente para mulheres que não têm companhia para viajar. Para incentivá-las, a jornalista e escritora Giselle Nogueira resolveu criar o blog Mulher que Viaja Sozinha, a partir de suas próprias experiências.
"Fiz o blog quando voltava de uma viagem e comecei, no avião, a registrar as coisas legais que tinha vivenciado. Fiquei interessada em partilhar a experiência com outras mulheres que ainda não haviam se arriscado a enfrentar uma empreitada semelhante e que muitas vezes ficam na dependência do marido, dos filhos ou de amigos para poder sair de casa", conta Giselle.
Surpresas bem-vindas
A sensação de independência de uma viagem que se realiza sem negociações prévias, ao sabor da própria vontade, também é o que cativa a analista de marketing Jessica Artioli, de 23 anos. Ela diz que o maior privilégio dessa experiência é a possibilidade de ser surpreendida por diferentes lugares e paisagens.
"Não deixe de viajar por estar sozinho. Você pode se surpreender e descobrir que é uma ótima companhia para si mesmo", declara.
Mas a maior surpresa que Jessica experimentou em uma viagem aconteceu em Hong Kong, na China, para onde foi sozinha, por conta de uma reunião de trabalho. Para aproveitar a oportunidade, ela pediu que o chefe a liberasse uma semana antes do compromisso, antecipou a viagem e acabou visitando cidades próximas, como Dubai e Banco. "No meio de todos aqueles cenários incríveis, conheci o amor da minha vida, um brasileiro residente na Austrália e que, por acaso, estava passando um feriado na Tailândia".